1.3. Renovação – melhoria dos túneis existentes
A melhoria (entendida especialmente em termos de melhoria de segurança) e a renovação de túneis existentes e em operação, levantam problemas específicos de análise e de método. O grau de liberdade é menor do que em túneis novos, dado que é necessário tomar em consideração o espaço e as restrições existentes. Contudo, as tecnologias próprias de cada tipo de equipamento e a sua integração são idênticas.
A renovação e a melhoria de um túnel em operação resultam, frequentemente, num aumento do prazo e dos custos, na redução das condições de segurança durante as obras e em impactos menos controlados sobre o volume e as condições do tráfego. Estas desvantagens são frequentemente resultado de uma análise incompleta da situação existente, do estado real do túnel, das suas instalações e do seu ambiente, bem como de uma falta de estratégia e de procedimentos que pudessem reduzir as perturbações ao nível do tráfego.
A Secção Segurança nos túneis existentes propõe uma metodologia para o diagnóstico da segurança em túneis existentes e o desenvolvimento de um programa de melhoria. Adicionalmente, a Secção Operação durante manutenção e renovação apresenta questões específicas relacionadas com os trabalhos desenvolvidos em túneis em operação. As respetivas disposições permitem minimizar os problemas mencionados anteriormente.
Considera-se, contudo, oportuno chamar a atenção do leitor para pontos chave apresentados nas secções seguintes.
O diagnóstico detalhado e rigoroso de um túnel é uma fase essencial no processo de modernização ou de renovação. Infelizmente, esta fase é frequentemente negligenciada.
O diagnóstico físico de um túnel exige:
- determinar detalhadamente e descrever de forma precisa as funções e a geometria da estrutura,
- determinar, com detalhe, as condições e o estado da estrutura. Avaliar, em particular, a resistência ao fogo, as incertezas e os riscos potenciais, e elencar os testes ou ensaios que seria indispensável levar a cabo, com vista a criar uma base sólida para a realização de estudos detalhados,
- elencar todos os equipamentos existentes, as respetivas funções, o estado, a tecnologia inerente, as respetivas caraterísticas reais (são exigidos testes ou medições) e o stock de peças sobressalentes que possam estar disponíveis,
- avaliar o tempo de vida útil do equipamento mencionado anteriormente antes da sua substituição e identificar a disponibilidade ou não de peças sobressalentes no mercado (nomeadamente por causa da obsolescência tecnológica),
- conhecer os relatórios de manutenção ou de inspeção, as avarias do equipamento e as taxas de avaria.
Este diagnóstico físico deve ser complementado com um diagnóstico referente à organização, aos procedimentos de manutenção e de operação, bem como por um diagnóstico específico relativo a todos os documentos no âmbito da organização da segurança e das intervenções de socorro. Esta fase de diagnóstico pode, eventualmente, resultar na implementação de ações de formação dos vários intervenientes, de forma a melhorar as condições globais a nível da segurança do túnel no seu estado inicial, antes da renovação.
O diagnóstico deve ser seguido por uma análise do risco do túnel com base no seu estado real. Esta análise tem um duplo objetivo:
- avaliar se o túnel pode continuar em operação no estado atual antes da renovação ou se é necessário adotar disposições transitórias temporárias: restrição do acesso apenas a alguns veículos – reforço dos dispositivos de vigilância e intervenção – equipamento adicional - etc.,
- constituir um referencial do estado existente do ponto de vista das condições da segurança que permita aperfeiçoar o conteúdo do programa de renovação.
O diagnóstico tem de identificar (a fim de evitar descobertas tardias em fase de obra) se as instalações existentes, em princípio em condições de funcionamento, são suscetíveis de evolução, junção e de integração nas futuras instalações requalificadas (compatibilidade tecnológica – desempenho nomeadamente para a aquisição e transmissão de dados, dispositivos automáticos e SCADA).
O programa de renovação ou melhoria desenvolve-se em duas etapas.
1.3.2.1. Primeira etapa: elaboração do programa
A elaboração do programa resulta:
- do diagnóstico detalhado descrito anteriormente,
- da análise de risco desenvolvida, considerando o estado inicial do túnel,
- das lacunas verificadas relativamente a questões de segurança,
- da análise do que é possível realizar nos espaços existentes e nos potenciais alargamentos, de forma a possibilitar a modernização do túnel.
Tendo em consideração o ambiente físico do túnel e os espaços disponíveis, o programa de melhoria ótimo para a infraestrutura ou para os equipamentos poderá não ser possível de executar em condições razoáveis e poderá ser necessário restringir o mesmo. Este programa restrito poderá requerer a implementação de medidas de mitigação que assegurem que o nível de segurança exigido seja atingido de forma global, após a finalização dos trabalhos.
1.3.2.2. Segunda etapa: validação do programa
A validação do programa exige:
- o desenvolvimento de uma análise do risco baseada no estado final do túnel, após a introdução de melhorias, de forma a testar as novas disposições introduzidas pelo programa. Esta análise tem de ser efetuada com a mesma metodologia utilizada no estudo anterior relativo ao estado inicial. Permite, igualmente, uma pesquisa de otimizações,
- exame detalhado da viabilidade dos trabalhos a desenvolver no âmbito da melhoria ou da renovação nas condições de operação exigidas: por exemplo, interdição de fecho do túnel ou de restrições temporárias à circulação. No caso de incompatibilidade entre os objetivos do programa e os trabalhos necessários à sua implementação, verifica-se a necessidade de um processo iterativo. Esta iteração pode dizer respeito:
- ao próprio programa, na medida em que a adaptação do programa seja compatível, por um lado, com os objetivos de segurança, e, por outro lado, com a sua implementação nas condições de operação exigidas,
- às condições de operação exigidas, que poderá ser necessário modificar, de forma a ser possível desenvolver materialmente as obras relativas ao programa de melhoria.
O programa de melhoria não requer, necessariamente, trabalhos físicos. Pode consistir, apenas, na modificação das funções do túnel ou das disposições de operação, como por exemplo:
- alteração da categoria de veículos autorizados a aceder ao túnel: interdição aos veículos pesados – interdição aos veículos de transporte de mercadorias perigosas,
- implementação de procedimentos específicos relativos a restrições ao tráfego: de forma permanente ou apenas durante as horas de ponta,
- túnel inicialmente operado nos dois sentidos de circulação, transformado para a implementação da circulação num único sentido,
- alteração dos meios de supervisão ou de intervenção.
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A fase de conceção e construção consiste em traduzir o programa de renovação ou de melhoria para o formato de especificações técnicas e contratuais e na implementação das mesmas.
Esta fase requer uma análise muito detalhada:
- das sucessivas etapas de construção, do conteúdo de cada uma destas etapas, das sequências lógicas e prioritárias dos trabalhos a realizar,
- das condições de segurança dentro do túnel em cada fase da construção. Isto requer análises do risco parcial e a implementação, se necessário, de disposições de minimização: regulação do tráfego – restrições à circulação – patrulhamento – reforço dos meios de intervenção – etc.
- das condições de tráfego dentro do túnel e na sua proximidade, com restrições temporárias ou parciais de acordo com as várias etapas dos trabalhos (disposições diferenciadas para os períodos diurnos e noturnos, para períodos normais ou de férias), com os potenciais desvios, com o impacto global no tráfego e nas condições de segurança nas áreas afetadas pelos trabalhos,
- de restrições e sujeições, prazos globais e parciais dos trabalhos, de forma a possibilitar, por um lado, a definição de especificações contratuais para os empreiteiros e, por outro, a implementação de todas as disposições temporárias e a proceder a uma campanha de informação junto dos utentes e residentes.