Manual de Túneis Rodoviários

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5.3. Impacto sobre a água

O impacto da infraestrutura rodoviária sobre a qualidade da água pode ser muito significativo, tanto em condições de operação normais (fuga de hidrocarbonetos, material de desgaste dos pneus, etc.) como em situações acidentais (derrame de grandes quantidades de poluentes).

A existência de um túnel não modifica muito o problema. Tal como em qualquer estrada, mantem-se a necessidade de se proceder ao tratamento da água (decantação, remoção de poluentes) antes da sua libertação no meio ambiente. Contudo, devem ter-se em consideração alguns elementos específicos dos túneis quando se procede à conceção dos sistemas de gestão da água. Em primeiro lugar, os túneis têm de ser limpos numa base regular, mesmo mensal no caso de túneis urbanos com muito tráfego. Esta situação gera o desperdício de grandes quantidades de água contendo produtos de limpeza. Em segundo lugar, os túneis em que é permitido o transporte de mercadorias perigosas estão geralmente equipados com caleiras específicas, de forma a limitar o derrame de líquidos inflamáveis no pavimento. Se ocorrer um derrame acidental, o caudal de líquido poluente nestas caleiras pode ser superior ao que se observa na superfície do pavimento normal, e o sistema de gestão da água deve ser capaz de lidar com estes caudais.

Durante a fase de construção, podem ocorrer situações muito difíceis relacionadas com a água em ambientes sensíveis, por exemplo, as relativas à turvação dos efluentes no estaleiro. Devem ser tomadas as medidas adequadas. Nalguns casos, estas medidas representam restrições e sobrecustos significativos para os trabalhos de construção. A construção de túneis e os aspetos associados saem fora do âmbito do comité da AIPCR/PIARC dedicado à exploração de túneis rodoviários. Para mais detalhes aconselha-se, por conseguinte, a consulta das recomendações da ITA/AITES.

Fig. 5.3.1 : Infiltração de água num túnel revestido com aduelas

A maior parte dos impactos dos túneis sobre a água (e da água sobre os túneis) ocorre durante a sua construção, mas alguns impactos permanecem durante muito tempo e podem criar obstáculos à operação e à manutenção dos túneis. Deve ser dada especial atenção a estes processos durante as fases de planeamento e de conceção, de forma a evitar consequências adversas e dispendiosas. Deve ser levado a cabo um estudo detalhado da hidrologia de superfície e subterrânea, antes e durante a construção. Devem ser escolhidos o traçado e os elementos estruturais menos prejudi­ciais de forma a minimizarem-se interrupções e alterações dos padrões e processos hidrológicos.

Do ponto de vista teórico, os túneis podem ser: impermeáveis (não permitindo a infiltração de água e desenvolvendo-se toda a pressão da água sobre o revestimento) e permeáveis ou semi permeáveis (permitindo alguma infiltração de água e evitando o desenvolvimento de toda a pressão da água sobre o revestimento). Na prática, a maioria dos túneis é permeável durante a construção e semi permeável durante a fase de operação. A Fig. 5.3.1 mostra a infiltração de água num túnel revestido com aduelas e concebido para ser impermeável.

Fig. 5.3.2 : Ressurgência de água através de uma camada basáltica permeável

Em túneis não revestidos (ou com revestimento permeável) as ressurgências de água podem ser importantes. A Fig. 5.3.2 mostra a ressurgência da água através de uma camada basáltica permeável, no Canadá.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O rebaixamento dos níveis freáticos causado pelas técnicas de construção das infraestruturas é um assunto cada vez mais importante. Em geral, o efeito perdura durante a operação do túnel e os níveis freáticos originais baixam, verificando-se um impacto irreversível a nível das captações de água.

Fig. 5.3.3 : Escoamento da água de drenagem e precipitado de hidróxido de cálcio num túnel com revestimento de betão         Fig. 5.3.4 : Efeito similar em hidróxido de cálcio num túnel com revestimento de betão e Fig. 5.3.4 : Efeito similar emjunta de construção

A água que se infiltra num túnel pode dissolver o hidróxido de cálcio do betão do revestimento, tornando-se mais alcalina, e depositá-lo nas superfícies dos sistemas de drenagem. Este efeito é mais frequente em túneis antigos, com sistemas de drenagem ultrapassados. A Fig. 5.3.3 mostra o escoamento da água de drenagem e o precipitado de hidróxido de cálcio num túnel revestido de betão. A Fig. 5.3.4 mostra um efeito similar numa junta de construção.

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